Era uma Corte cara, perdulária e voraz. Em 1820 a alimentação anual da nobreza portuguesa que aqui aportou custava em torno de 900 contos de réis ao Reino, ou quase 50 milhões de reais em dinheiro atual. O déficit crescia sem parar, e em 1821 o rombo no orçamento aumentou mais de vinte vezes. Apesar disso, a Corte continuou a bancar todo mundo, nobres e seus asseclas, sem se preocupar com a origem dos recursos.
“Todos, sem exceção, recebiam ração, de acordo com seu lugar e valimento” explica o historiador Jurandir Malerba. “Nobres, artistas, cantores, pintores, arquitetos, todos recebiam sua cota de víveres a custa da corte Real.” E tais gastos culminaram em uma necessidade urgente de emitir moeda – o que, ironicamente, resultou na criação do primeiro Banco do Brasil.
Toda a luxuosidade que os imperadores, reis e outros governantes usufruíram durante os séculos 18 e 19 (cenários típicos da época, em que a população ficava a mercê da miséria e da fome, enquanto reis viviam em palácios) é vista como um cenário sombrio e indesejado hoje em dia. O absurdo daquele período não consistia apenas na situação desfavorecida da população plebeia, mas também na falta de caráter e no roubo dos nobres, pois todo o dinheiro obtido pelo Estado era adquirido pelas mãos e pelo esforço de trabalhadores, e seria dever dos governantes manter a estabilidade da sociedade em que governa, ao invés de esbanjar tais recursos arrecadado com banalidades.
Contudo, apesar de nossa reprovação histórica ao passado, essa falta de caráter não foi ainda eliminada, e persiste em nossos atuais governantes.
Três séculos depois, nossos governantes ainda não aprenderam. Ainda hoje em dia, findada a monarquia e estabelecida a república, as autoridades gastam mais do que arrecadam, beneficiando-se, para fins próprios, do nosso dinheiro.
A visão de uma República Federativa, que é sinônimo de um engajamento e participação política da população nos assuntos do Estado, não é realmente levada a sério.
Os gastos abundantes de juízes, governadores, senadores, deputados e presidentes da República, a admissão desnecessária de funcionários e as altas remunerações, somadas ao mal-caráter e à corrupção endêmica: tudo isso demonstra que as autoridades atuais também vivem e roubam como reis.
Confira alguns dados sobre gastos extravagantes realizados apenas nos últimos 10 anos:
Em 2008 a ABIN gastou R$ 6.000 em bolas de futebol, quatro bolas de basquete, petecas e uma rede de peteca.
O Senado Federal gasta R$ 1 milhão de reais por ano no pagamento de assinatura de jornais e revistas. Nós pagamos.
O STF gastou R$ 40.000,00 em 2009, já descontada a inflação, na restauração de fotografias de ex-ministros.
Em 2011, o Senado Federal gastou R$ 125,00 na compra de 50 absorventes higiênicos tamanho G.
Durante os dois governos Lula, foram admitidos 127.000 novos funcionários, só no Executivo, com salários generosos.
O cidadão Weslei Machado questionou uma taquígrafa do Senado a respeito de seu salário, e foi chamado de “fofoqueiro”
O TST gastou R$ 12.000 em 2012 na compra de uma bicicleta e uma esteira ergométricas.
Na era da informática e do e-mail a Presidência gastou R$ 12.200 em 2012 com o envio de cartões de Natal via correio.
A Câmara dos Deputados gastou R$ 2.000 em 2013 na compra de 10 apontadores de lápis elétricos da marca CIS.
A Presidência da República gastou R$ 6.000 em 2013 na compra de bolas de futsal, vôlei, futebol society e ping-pong.
Base Aérea de Anápolis gastou R$ 5 mil em curso de Mandarim para suboficial que ia viajar para a China – 2013.
Em 2014 a Presidência da República gastou R$ 19.400 em equipamentos de natação, como toucas, nadadeiras e coletes.
A Câmara dos Deputados pagou R$ 3.700 ao Labo SFDK para averiguar se o cafezinho da Câmara era bom ou ruim – 2012.
A Câmara dos Deputados gastou R$ 12.900 em setembro de 2015 na compra de 54 saboneteiras, cada uma a R$ 238,88.
O TCU acaba de comprar 350 poltronas e cadeiras ergonômicas sofisticadas, com reforço lombar. Conta: R$ 600.000,00.
Câmara dos Deputados renova eletrodomésticos dos parlamentares e gasta mais de R$ 1 milhão – Agosto de 2015.
O fato é que os governantes vivem no luxo, se endividam e é para nós que enviam a fatura dessas despesas. E antes que você atribua esse lastro de corrupção e gastos abundantes ao “jeitinho brasileiro”, saiba que essa falta de moralidade por parte de políticos não é um problema brasileiro. Gastos excessivos e desnecessários existem em diversos países.
Um exemplo é os EUA, que estão com uma dívida externa de U$ 18 trilhões, o maior valor registrado desde a independência do país em 1776, oriundo de gastos militares e sociais excessivos. A dívida dos Estados Unidos é em torno de U$ 56.484,69 por habitante.
Fontes:
Estado de São Paulo: Lista de gastos da Presidência da República vai de diária de hotel a material de pesca.
O Globo: Dilma custa ao Brasil o dobro que Elizabeth II ao Reino Unido.
The Day Trading Academy: a dívida no governo Obama.
ESCRITO POR: Rodrigo Zottis
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