sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A CHAVE DA CONCENTRAÇÃO

Aprenda a se concentrar
           Facebook, sua cama, uma hora a mais no bar: tudo é mais interessante do que terminar o trabalho. E a culpa é do seu cérebro, que não foi feito para se concentrar. Mas não se desespere. Com algumas técnicas simples, dá para melhorar seu foco. Basta prestar atenção nas próximas páginas. (E essa já é a dica número 1).

           Edilson não conseguia se concentrar de jeito nenhum. Tinha sempre dois ou três empregos e passava o dia indo de um para outro. Adorava trocar mensagens, e se acostumou a escrever recados curtos e constantes, às vezes para mais de uma pessoa ao mesmo tempo. Apesar de ser um cara mais inteligente do que a média, sofria quando precisava ler um livro inteiro. Para completar, comia rápido e dormia pouco -  e não conseguia se dedicar ao casamento conturbado, por falta de tempo. Se identificou? Claro, quem não tem esses problemas? Passar horas no twitter ou no celular, correr de um lado para o outro e ter pouco tempo disponível para tantas coisas que você tem que fazer são dramas que todo mundo enfrenta. Mas esse não é um mal do nosso tempo. O rapaz da história aí em cima era ninguém menos que Thomas Edison, o inventor da lâmpada. A década era a de 1870 e o aparelho que ele usava para mandar e receber mensagens, um telégrafo. O relato que está em uma edição de 1910 do jornal New York Times, conta que quando Edison finalmente percebeu que seu problema era falta de concentração, parou tudo. Se fechou em seu escritório e se focou em um problema de cada vez.

A mente em foco
           Cabeça vazia, lar da atenção
1. O PROBLEMA
           Para começar a se concentrar, é uma boa usar técnicas de relaxamento. Segundo especialistas em meditação, nosso cérebro trabalha normalmente em uma frequência muito alta, lidando com uma grande quantidade de informação.

2. O MEIO
           O primeiro passo é baixar o fluxo dos pensamentos a um nível parecido com a meditação. Para isso, foque na respiração. Preste atenção no ar que entra e sai, na quantidade e intensidade. Assim você esvazia o cérebro.

3. O FIM
           O exercício mais difícil é focar em um ponto estático. Imagine a chama de uma vela e tente controlar o movimento com a mente. O desafio aqui é pensar em nada – o que é bem difícil. Nossa cabeça preenche espaços com pensamentos.

           É verdade que tudo ao nosso redor serve para nos distrair. Que as ferramentas criadas para roubar o seu temo estão cada vez mais interessantes. E que todos aqueles links na internet são muito mais legais do que seu trabalho. Homens do tempo de Edison não tinham um celular que tocava ou recebia e-mails enquanto eles tentavam ler um livro – mas a luta humana pela concentração está longe de ser um problema moderno. Na verdade é bem mais antigo do que você imagina.


Respire fundo
           Então vamos lá. Concentre-se. Você está conseguindo ler esse texto? Ótimo! Só podemos acreditar em você. Afinal, é difícil medir exatamente o quanto está prestando atenção aqui. Não há nenhuma maneira científica de medir essa forma prolongada de atenção que nós chamamos de concentração. Isso porque ela não é uma tarefa de uma área especifica, mas de um conjunto de sistemas que envolvem o cérebro inteiro. O que a neurociência já sabe é que se trata de um processo de escolha do que é importante. Vamos entender na prática.

           Você está em uma festa barulhenta, lotada de pessoas. Alguém interessante se aproxima e puxa assunto. Nesse momento, seu cérebro a elege como o foco mais importante e ignora todos os outros estímulos ao redor. Quase todas suas habilidades cognitivas estão na conversa. “O lobo frontal, responsável pelo comportamento e pela tomada de decisões, é especialmente importante na concentração, mas  praticamente todo todo o sistema sensorial está envolvido”, afirma o neurologista Ivan Hideyo Okamoto, da Universidade Federal de São Paulo. Emoções e memória, por exemplo, têm grande influência no que e no quanto você vai se concentrar. A origem disso está no sistema límbico, que comanda as emoções – ele sempre vai favorecer os elementos que despertam sensações intensas. Por isso é tão fácil se concentrar na pessoa interessante que puxa papo. Com todos os seus sentidos voltados para algo tão importante (conseguir um telefone no fim da conversa, por exemplo), fica difícil não se concentrar.

           Mas o verdadeiro desafio é focar naquilo que não é tão fascinante assim. Você sabe do que estamos falando: certamente já tentou estudar para uma prova ou prestar atenção no seu chefe, mas simplesmente não conseguiu. A culpa para a sua mente avoada está nos nossos ancestrais. Seu cérebro simplesmente não foi moldado pela evolução para passar muito tempo no mesmo assunto. Nossos parentes evolutivos – outros mamíferos, aves e répteis – precisavam sempre tomar decisões rápidas. Fugir de um predador, caçar, procurar um abrigo. Para todos os outros animais, reparar em tudo o que se passa ao redor significa sobreviver. “Para nossos ancestrais, o tipo de concentração que queremos ter agora não era necessária”, diz o psicólogo Gary Marcus, da Universidade de Nova York. Por isso, nosso cérebro foi moldado para ser rápido demais e atento a tudo o que acontece à volta. Passou milhares de anos se aprimorando para prestar atenção nos perigos das savanas, e não em um ponto estático, como esta revista. Só agora, que temos a vida fácil, em que compramos nossa comida no supermercado, é que se tornou necessário se concentrar.

           Para nossa sorte, e ao contrário de outros animais, somos capazes de acionar nossos neocórtex – a parte mais evoluída do cérebro – para tomar decisões a longo prazo. Como a de estudar para uma prova, por exemplo. Mas, para cumpri-las, precisamos lutar contra a parte mais primitiva que carregamos – nosso cérebro reptiliano. Ele foi programado ao longo de milhares de anos para buscar recompensas imediatas. “É por isso que é tão difícil resistir àquelas batatas fritas quando você está de dieta. O prazer de comê-las é uma recompensa muito mais rápida do que os quilos a menos que você veria na balança daqui a alguns meses”, diz Gary Marcus.

           Da mesma forma, por que ler um livro inteiro se comentar as fotos dos seus amigos no Facebook é muito mais divertido? Abrir várias abas no seu navegador e descobrir rapidamente tudo o que está acontecendo são coisas instintivamente prazerosas. Aliás, pesquisas recentes mostram que esse prazer pode ser tão viciante quanto o álcool. É que receber seus e-mails ou ver aquelas atualizações dos seus amigos libera dopamina, um importante neurotransmissor ligado ao prazer e à motivação. “Ela está por trás do nosso comportamento de busca, da vontade de procurar por algo novo. É ela que nos faz curiosos por novas ideias e informações”, afirma em seu blog a psicóloga Susan Weinshenk, autora do livro Neuro Web Design: What makes them click? (Neuro Web Design: O Que Os Faz Clicar?, sem tradução no Brasil ainda). É isso que faz com que seja impossível ignorar a caixa de mensagens novas: nosso cérebro as entende como uma tentação irresistível . “Com twitter e e-mail, nós agora temos gratificação instantânea e constante para o nosso desejo de buscar”, diz. Ou seja, não é a internet que nos distrai, nós é que construímos a internet da forma que ela mais nos agrada: distraindo-nos. Por isso, ela é cheia de janelas clicáveis, abas que se abrem e avisos visuais e sonoros.

           Opa, mas então como é que você conseguiu se concentrar  para ler esse texto até aqui? (Quer dizer, você ainda está aí, né?). É que se concentrar pode ser uma tarefa difícil por natureza, mas está longe de ser impossível. “Felizmente nosso cérebro se adapta facilmente ao que aprendemos. Por isso é possível treinar a capacidade de concentração”, diz David Schlesinger, neurocientista do Hospital Albert Einstein. Ele se refere à plasticidade do cérebro, aquela capacidade dos seus neurônios de se redistribuir de acordo com a necessidade e o treino. Aliás, talvez você não saiba, mas ao ler esse texto já está treinando a concentração.

Autor: Gisela Blanco
Publicado em: Revista Superinteressante Ed. 306 - Julho 2012

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